Ás vezes, penso como o mundo seria se todas as pessoas fossem iguais; em todos os sentidos. Mesmos gostos, mesmas opiniões, mesma cor da pele, mesma personalidade, mesma orientação sexual. Acho que seria chato e um tanto monótono; viver num mundo em que todos concordam em todos os assuntos, em que não existe uma diversidade de opiniões para discutir e debater, todos pensando do mesmo jeito, sem sair da zona de conforto.
Vez ou outra - ou talvez com uma certa frequência - me deparo com livros exatamente assim. Historias que são mais do mesmo; apenas um molde genérico que também é usado em vários outros enredos. Os personagens são todos iguais; mesma aparência, mesma personalidade. Parece até que o autor segue uma fórmula, evitando ao máximo que seus livros tenham algum tipo de diversidade, por menor que seja.
Isso não é uma indireta para alguém específico, é só uma reflexão que tive sobre determinados livros consideravelmente famosos no meio literário.
Na maioria das vezes, esse tipo de livro vende que nem água. Acho que as pessoas que consomem livros que seguem essas “fórmulas”; livros que se enquadram na heteronormatividade, não querem sair da zona de conforto. Tanto os leitores como os próprios autores de livros assim.
Essas histórias vendem e, na maioria das vezes, os personagem são brancos, cis e héteros. A história pode ser boa ou não, mas os leitores consomem do mesmo jeito. Principalmente se o autor for conhecido no meio literário e se a maioria de seus livros seguem essa “fórmula”; ele não vai escrever algo diferente e correr o risco dos leitores não comprarem.
Claro, isso é só uma suposição. Não significa que todos os autores conhecidos são assim e nem que os leitores realmente agiriam desse jeito, é só mais uma teoria que passou pela minha cabeça.
Você já deve ter ouvido aquela frase: “ah, hoje em dia é só ‘lacração’” , ou variadas, quando há qualquer representatividade em filmes, séries, livros, entre outros. Mesmo que, de todos os personagens daquela obra, apenas um faça parte de alguma minoria social.
Isso não é novidade pra ninguém, algumas pessoas se incomodam demais quando veem algo fora do esperado; fora do padrão. Talvez, os autores que usam a “fórmula” que citei no começo pensem que os leitores não vão gostar do livro por estar fora do esperado, por apresentar personagens diversos - ou talvez eles só tenham preguiça de pesquisar sobre aquela determinada minoria social e escrever sobre essa com representatividade.
Esse é um ponto interessante também. Há aquela desculpa: “Não faço parte da minoria x, então não posso escrever sobre ela”, mas isso não é verdade. Podemos escrever sobre o que quisermos, contanto que seja com cuidado e responsabilidade. Afinal, estamos representando alguma minoria social que, em grande parte das vezes, já é marginalizada e discriminada.
Para isso, existe a leitura sensível.
Vamos supor que eu escrevi um personagem negro. Eu sou uma pessoa branca, então não sei como são as vivências de uma pessoa negra e, por isso, posso acabar escrevendo algo não tão legal assim sobre esse grupo social. Nesse caso, o leitor sensível iria me orientar a escrever esse personagem de uma maneira melhor e mais responsável; como sugerir que eu apague esse trecho ou o escreva de outra forma.
Esse serviço é muito importante, tanto para tratar minorias sociais com mais responsabilidade; evitando falas preconceituosas ou que reproduzam algum esteriótipo, como para mais pessoas escreverem livros com mais diversidade.
Se temos mais livros fora do padrão heteronormativo, as pessoas que fazem parte das minorias representadas entre outras vão ler, conhecer e se identificar com os personagens. Pessoas que, em boa parte das vezes, cresceram sem essas referências.
Isso não acontece em livros que retatam apenas a realidade heteronormativa. Não estou dizendo que ninguém deve ler livros assim, cada um faz o que quiser e vida que segue.
Mas a diversdade é algo que deve ser trabalhado no meio literário, na arte. Nossa situação está muito boa agora, existem inúmeros livros que tem uma representatividade impecável; tanto nacionais quanto estrangeiros.
Gosto muito de livros que não resumem a personalidade do personagem a: faço parte da minoria X. Ao invés disso, os personagens são bem desenvolvidos e, em alguns casos, a minoria da qual ele faz parte acaba sendo apenas mais um detalhe; como em um livro de fantasia em que o protagonista é gay, mas o foco principal é a fantasia.
Claro que livros que focam no processo de descoberta do personagem ou no fato dele pertencer a alguma minoria são importantes também, mas não podemos escrever apenas isso. Nós somos mais do que nosso gênero ou nossa sexualidade.
Ainda tenho algumas reflexões passando pela minha cabeça agora, meu dedo ta coçando pra eu escrever aqui, mas o texto vai ficar muito longo. Mesmo assim, essa edição ainda não acabou.
Se você se interessa por livros escritos de forma responsável e com uma boa representatividade, aqui estão algumas indicações:
A Gravidade de Júpiter” - Ariel F. Hitz
Olhar para Júpiter era confuso. Não sabia se queria beijar ela ou ser ela, o que era um problema, sem dúvidas.
Júpiter provavelmente nem sabia de sua existência. Ela era mais do que inalcançável. Estar ao lado dela é algo que aconteceria apenas em seus melhores sonhos. Assim como ser igual a Júpiter estava totalmente fora de cogitação. Não tinha coragem alguma de se mostrar assim para o mundo.
Como seus pais reagiriam se descobrissem que o precioso filho que adotaram com tanto carinho é, na verdade, uma garota? Não poderia fazer isso com eles. Deveria continuar fingindo.
Sentindo-se totalmente fora dos eixos, distante do próprio coração, decide começar um diário. É onde não precisa atuar, onde pode dizer seu nome verdadeiro, todas as suas angústias e seus medos.
Ninguém mais pode saber o que acontece em sua mente.
O diário é seu lugar seguro.
Temos um Acordo? - Bruna Catarina
Alisson é um estudante de moda gênero fluido que acaba de conseguir um estágio numa empresa em ascensão. No seu primeiro dia ele conhece seu chefe, Bernardo, um estilista que aparenta ser o típico CEO padrãozinho de romance contemporâneo. Mas Alisson percebe que há mais do que as aparências transparecem ao encontrar rascunhos de uma coleção agênero engavetada, assinada pelo próprio Bernardo. Encantado com a ideia, seu primeiro instinto é implorar ao chefe que retome o projeto. O que ele não esperava era abrir a porta de seu escritório e encontrá-lo de camisa aberta, com seu binder exposto, revelando seu maior segredo: ele é um homem transexual. Determinado a manter a discrição, Bernardo não tinha motivo para ceder à vontade do estagiário de produzir a coleção. Até ser convidado para ser padrinho no casamento do melhor amigo e sua vida amorosa entrar em pauta. Revelado como o único solteiro, num impulso ele inventa ter um namorado. Pego num mal entendido e precisando que Alisson complemente sua mentira, eles fazem um acordo: Alisson fingirá ser seu namorado e Bernardo lhe dará a coleção dos seus sonhos. O que nenhum dos dois esperava era que o projeto e a mentira os aproximassem a ponto de colocar seus sentimentos em jogo.
Os Garotos do Cemitério - Aiden Thomas
Quando a família latina bastante tradicional de Yadriel tem problemas para aceitar sua verdadeira identidade de gênero, Yadriel torna-se determinado a provar que é um verdadeiro bruxo . Fortemente conservadora, a comunidade bruxe não permite que ele passe pelo ritual, com a desculpa de que a Senhora Morte não iria aceitá-lo, por conta de sua identidade de gênero e orientação sexual. Com a ajuda de sua prima e melhor amiga Maritza, ele decide ele mesmo resolver o problema, na expectativa de encontrar o espírito de seu primo assassinado e, então, libertá-lo.
No entanto, o fantasma que ele invoca é, na verdade, Julian Diaz, o bad boy da escola... e Julian não tem interesse em deixar esse mundo tão facilmente. Ele está determinado a descobrir o que aconteceu e resolver algumas pendências e pontas soltas antes de partir. Sem escolha, Yadriel concorda em ajudar Julian, para que ambos possam obter o que querem.
O que Yadriel não esperava era que, quanto mais tempo passa com Julian, menos quer que o garoto se vá.
Enquanto eu não te encontro - Pedro Rhuas
Nenhum encontro é por acaso.
A vida tem sido boa para Lucas. Ele passou no Enem para estudar publicidade; se mudou com Eric, seu melhor amigo, do interior do Rio Grande do Norte para a capital; e conseguiu sua tão aguardada liberdade. Mas, no amor, Lucas é um desastre. O maior fã de Katy Perry no Nordeste tem certeza de que nem toda a sorte do mundo poderia fazer com que ele finalmente se apaixonasse pela primeira vez.
Até que, em uma despretensiosa noite de sábado em 2015, tudo muda. Quando Lucas e Eric vão na inauguração do Titanic, a mais nova balada da cidade, Lucas esbarra (literalmente!) em Pierre, um lindo garoto francês que parece ter saído dos seus sonhos. Em meio a drinques, segredos e sonhos partilhados, Lucas e Pierre se conectam instantaneamente. Eles vivem o encontro mais especial de suas vidas, mas o Universo tem outros planos para o futuro… Até a noite acabar, o que será que vai acontecer com eles?
Uma Pitada de Sorte - G.B Baldassari
E se um livro te indicasse uma pessoa? Amélia é uma jovem chef de cozinha que busca sucesso dentro da alta gastronomia. Depois de uma entrevista de emprego desastrosa, ela vê sua coleção de fracassos aumentar. As coisas também não vão bem no quesito amor, e ela sente que precisa, desesperadamente, de uma volta por cima. Decidida a dar uma chance ao destino, Amélia deixa um bilhete com seu endereço de e-mail dentro do seu livro preferido e o vende em um sebo. Se tudo der certo, ele vai trazer a garota dos seus sonhos. Simples assim. Exceto que, para Amélia, nada acontece de forma simples ou sem muita confusão.
Até a próxima edição :)
concordo com você: precisamos de mais diversidade na literatura, o que não significa dizer que só quem pertence a determinado grupo pode escrever sobre ele. a imaginação é livre, pode e deve ser usada. basta ter responsabilidade com o que se escreve.