#22 - ser autêntico é sustentar o desconforto de desagradar os outros
a edição deluxe de Crepúsculo, livros genéricos e comparação
Vocês viram a edição deluxe dos 20 anos da saga Crepúsculo? Pois é, eu também.
Na verdade eu não tava sabendo de nada, mas aí apareceu uma análise da capa, da diagramação e da identidade visual dessa nova edição.
No post, a Alycia (@alyciabcarvalho) relacionou as cores e elementos dessa capa com os dos livros originais, e a conclusão foi que não têm nada a ver com a identidade visual que a saga mantém há 20 anos.
Agora, parece um livro de fantasia genérico ou, sei lá, a Biblia da Mulher (e essas palavras nem são minhas; e sim do post de análise da capa)
Não, essa edição não vai se tornar uma análise gráfica e estética dos livros - isso vocês podem olhar no post da Alycia.
Então, o que eu tô querendo dizer?
Esse papo da nova edição de Crepúsculo tá muito relacionado com a questão de estar sempre surfando em tendências, sem ter um nicho ou uma identidade própria. Só seguir uma estética; um modelo pronto que só te faz ser igual aos outros.
E é isso que acontece muito na nossa sociedade atual, principalmente nas redes sociais. Todo mundo que está presente e que consome na internet de modo geral acaba se deixando influenciar por certos interesses e realidades que; em grande parte das vezes, não são nossas. O pior é que é só uma tentativa de fazer o que tá todo mundo fazendo, seguir as tendências, se encaixar e pertencer a um determinado grupo.
O problema é que, nesse processo, a gente apaga à nós mesmos e a nossa própria identidade; priorizando aquela coisa de ser igual a todo mundo.
Cadê a nossa individualidade?
Isso não acontece só na internet - mesmo que ela e o que o influencer X tá fazendo induzam pra caramba o nossos gostos pessoais e o que fazemos - , basta olhar em volta.
Todos - ou a maioria - sempre com as mesmas roupas e o mesmo corte de cabelo e a mesma forma de pensar.
Eu, pessoalmente, não consigo ver realidade nisso. Ao menos, não em 100% dessas coisas. Ok, talvez as pessoas realmente gostem desses elementos e eu esteja generalizando, mas será possível todo mundo quase todo mundo ser igual em tudo?
E o que isso tem a ver com a escrita?
Não dá pra negar que existem muitos livros genéricos e “mais do mesmo” no mercado literário. E, também, que as pessoas estão sempre esgotando estoques de livrs assim - mesmo que tenham vários livros por aí (principalmente nacionais) que fogem completamente do padrão e que entregam histórias incríveis.
Esses livros vendem tanto porque são todos iguais; sempre seguem uma fórmula. Outros fatores como a visibilidade e posição do autor no mercado literário também contribuem para esse consumo, mas o ponto é que ninguém quer diverisficar merda nenhuma.
Resultado: nós, os escritores nacinais, temos que nos desdobrar em mil pra escrever algo que chame atenção; que não seja genérico. São dois pesos e duas medidas. Se um autor grindo publica uma história mal feita e sem personalidade, todo mundo lê mesmo assim e passa pano. Agora, se a gente faz algo um pouco fora do esperado, o negócio é diferente.
Não vi muita coisa sobre a capa e outros aspectos gráficos da edição de Crepúsculo além daquela análise no Instagram, mas acho que eles só tentaram fazer algo novo e…só tentaram.
Eles só fizeram mais do mesmo, abandonando a identidade real da saga.
Afinal, como não fazer só mais do mesmo?
Pra dizer a verdade, eu também não sei. Não têm uma fórmula pronta que você pode decorar e aplicar em todos os momentos; mas acho que dá pra pensar em algumas coisas que contribuem, ao menos um pouco, pra uma autenticidade ser construída.
Seja você, foque na sua identidade e escreva da sua forma. (é mais simples do que parece)
A gente se compara tanto com outros escritores porque a escrita deles parece infinitamente melhor que a nossa; mas cada autor tem o seu estilo, o seu ponto de vista, a sua forma de ver o mundo.
E é isso o que conta.
E não só na escrita, tá? Em todos os sentidos. E daí que todo mundo se veste do jeito X? Porque eu preciso me encaixar nisso? Porque eu não posso ser eu mesmo?
Uma vez ouvi uma frase: ser autêntico é sustentar o desconforto de desagradar os outros. E sempre lembro disso quando, sem perceber, acabo só seguindo o que todo mundo tá fazendo e deixando a minha identidade em segundo plano - porque não vamos mentir: todo mundo sempre quer agradar os outros e recber validação.
Mas no final, a única validação que vale é nossa própria. Nós que precisamos estar satisfeitos e confortáveis com nós mesmos e com a nossa escrita; com as nossas histórias - independente do escritor X que tem a escrita perfeita. ou da opinião dos outros.
Porque ser autêntico é sustentar o desconforto de desagradar os outros.
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